Na passada quarta-feira, o conselho pedagógico da escola em que lecciono (Agrupamento Vertical de Paredes de Coura) decidiu suspender todas as actividades que impliquem trabalho docente para além do estipulado no horário, assim como as participações em actividades da comunidade em que está inserida.
Assim, a primeira baixa será a do Cortejo de Carnaval, que costuma percorrer as ruas e obrigar muitos docentes a investir tempo em regime de gratuidade, já para não falar de investimento monetário que muitos docentes acabam por fazer.
Perante esta tomada de posição, os encarregados de educação, vão reunir-se na próxima quarta-feira, 18 de Fevereiro, para reagir à forma de luta destes professores.
A primeira reacção à reacção, que ouvi, foi de um sacerdote que se lastimou: "Preocupam-se mais com o Carnaval do que com a Comunhão Pascal!" Não pude consolá-lo, porque também eu fui apanhado de surpresa.
Estas formas de luta, as reacções e as reacções às reacções são exemplares dos valores que começam a pautar a nossa sociedade. A primeira pedrada é o facto de, há algum tempo a esta parte, a escola ter passado a ser um campo de batalha entre professores e alunos, professores e encarregados de educação e, suspeito, que em casa, entre pais e filhos. Tudo se resume a conflitos e a reinvidicar direitos. Os deveres...
As reuniões com encarregados de educação têm em média três encarregados, os alunos questionam a autoridade dos professores com o incentivo dos pais (dá menos trabalho, apesar de o resultado final não ser tão bom...), alguns professores vão-se rendendo a uma suposta inevitabilidade e começam já a afiar os dentes para a luta pelo estatuto que um "Excelente" lhes pode trazer.
Como referi, há algum tempo, o que se aproxima é uma completa deseducação em que cada um se preocupe consigo mesmo - uma espécie de antídoto para a sociedade.
Para finalizar, queria deixar uma definição de funções que dará que pensar, se não for muito incómodo: encarregado de educação é responsável pela educação do educando, paga ao estado para lhe prestar esse serviço e sempre que tiver razão de queixa é ao estado que deve pedir responsabilidades. Da mesma forma, o professor presta um serviço ao estado e é ao estado que deve prestar contas, se não exercer cabalmente o seu serviço. O que se passa em Portugal é algo ligeiramente diferente: o fluxo de dinheiro é exatamente o mesmo, mas o fluxo de responsabilidade faz curto-circuito entre os pais e os docentes, deixando o estado de fora e, normalmente, sacudindo a água do capote dos pais.
Já falta pouco para o Matrix: os pais entregam os filhos à máquina, é-lhes ligada a mangueira à nuca e vegetamos felizes para sempre...
Bom dia Paulo
ResponderEliminarSe teve oportunidade de ver a carta aberta que a Associação de Pais entregou no agrupamento ainda antes de convocada a reunião do próximo dia 18, verifica que o carnaval é, provavelmente, o assunto de menor importância. Preocupa-me mais o cancelamento da habitual ida à praia das crianças dos jardins de infância, por exemplo, pois como o Paulo sabe, esta é uma oportunidade que muitas crianças só têm graças à escola, já que muitos pais não têm a possibilidade de lhes oferecer tal oportunidade. Sob o mesmo prisma, preocupa-me também o cancelamento da quase totalidade das visitas de estudo dos alunos do agrupamento (e já agora, porque não o fizeram com todas, mantendo algumas de valor educacional duvidoso?). Preocupa-me também o cancelameno a participação dos alunos do agrupamento em vários programas educacionais de âmbito nacional. Já o cancelamento da participação na comunhão pascal, sinceramente, não me preocupa.
No que respeita ao alheamento dos pais, infelizmente esta é uma situação que nos causa muita preocupação, como aliás já tivemos oportunidade de discutir. Mas não pode esquecer que essa situação tem vindo a melhorar nos últimos anos e o exemplo máximo é o aumento da participação dos encarregados de educação nas reuniões com os directores de turma, bem como a excelente participação dos pais em muitas actividades promovidas pelo agrupamento. É claro que isto é um trabalho a duas mãos e se os professores marcarem reuniões para o meio da manhã, por exemplo, não se podem depois queixar de falta de partipação dos pais.
O que nos leva à justificação apresentada para esta tomada de posição. Se leu as declarações da presidente do conselho executivo ontem ao Jornal de Notícias, verifica que o argumento utilizado é o da sobrecarga de trabalho devido à implementação do modelo de avaliação. Ou seja, para criticar a política do Ministério da Educação, resolvem enveredar pelo caminho mais fácil, cancelandoo o que, supostamente, lhes dará mais trabalho. Será que, quando os professores tomaram esta decisão tiveram em linha de conta a realidade sócio-económica do concelho? Quer-me parecer que não, infelizmente. E quando podiam ter os pais do vosso lado, acabam por os afastar, deliberadamente.
Eduardo Bastos
Presidente da Associação de Pais do Território Educativo de Coura
olá Professor Paulo,
ResponderEliminarafinal parece que os proferssorzecos fazem falta... Quanto mais não seja para: organizar o cortejo de carnaval, levar os meninos à praia ou organizar visitas de estudo.
Ultimamente só se dá valor aos professores quando estes fazem greve... e nessas alturas como é que os encarregados de educação comentam "e agora, não tenho onde deixar o meu filho" ou "ah! não sabia". Na minha perspectiva todos estes comentários são legítimos, mas só mostram o distanciamento e a despreocupação que as famílias têm em relação à educação dos seus filhos. Porque se o mundo não estivesse todo ao contrário, a pessoa que leva o aluno à escola no dia de greve dos professores, deverá ter como principais preocupações o seguinte: se os conteúdos das aulas deste dia serão repostos, se a aula de preparação para o teste será realmente dada, se o teste de matemática será realizado na próxima aula onde no mesmo dia já há teste de português. E são estas as verdadeiras questões, mas sejamos sinceros para colocar os problemas é necessário estar ao corrente da vidas dos filhos, saber o seu horário, acompanhar as dificuldades, saber o que estão a estudar em cada disciplina, enfim fazer parte da vida dos filhos.
Para terminar. Porque na guerra que se está a travar haverá sempre danos colaterais, os alunos que agora serão prejudicados, irão permitir a outros no futuro o direito a uma melhor educação.
Agradeço a atenção que prestou à minha intervenção e ao facto de estar a fazer este blog para que todos entendam o que estamos a passar, em grande parte, com a cumplicidade das associações de pais.
ResponderEliminarNo que diz respeito à participação dos pais, devo dizer que todos os docentes/directores de turma deste agrupamento fazem reuniões mensais com os encarregados de educação ao fim da tarde. O facto de não estar atento a isto preocupa-me...
Quanto ao argumento de facilidade na decisão tomada, não colhe. Nem as visitas e restantes actividades são fáceis de realizar nem o seu cancelamento foi uma decisão fácil. A iniciativa partiu de um grupo de docente que tem sido responsável por grande parte das visitas e actividades deste agrupamento.
Quanto a penalizar, todas as formas de luta são penalizadoras para os utentes dos serviços. É esse o objectivo.
Como presidente de uma associação de pais, peço-lhe que pense que, nestes últimos anos, os professores/pais viram ser-lhes tiradas duas horas de componente não lectiva (neste momento, temos 9 horas para preparar toda a nossa actividade). Na realidade, esse tempo é roubado à família, porque quem exerce a minha profissão com honradez, não vai dar aulas em vão, sem ter tudo preparado.
Como refiro na mensagem inicial, falta responsabilizar os responsáveis. Chega de os professores serem o saco de boxe do governo e dos encarregados de educação. Quem está a lesar a educação é o governo, com este clima de guerrilha e de procura de um bode expiatório para uma crise que foi criada por políticos ineptos e pouco honestos.
16 de Fevereiro de 2009 0:14
O principal objectivo desta medida está conseguido: acordar os Pais e Encarregados de Educação. Eis que enfim se lembraram que têm filhos na escola! Aliás, aquilo que se lembraram agora é que de facto a escola até faz falta. Onde vão agora colocar os meninos na tarde do desfile? E nos dias em que eles eram despachados para a praia? E ..., enfim, não vale a pena acrescentar mais. Que pena, o depósito de crianças agora viu agora diminuído o seu horário.
ResponderEliminarQuanto à carta aberta que gentilmente nos enviaram, desculpem-me ser duro nas palavras mas: tenham vergonha. Escrevem vocês (ou alguém):
"Não se compreende, por exemplo, como se pode negar a refeição do meio-dia a crianças que, muitas vezes, têm na escola a sua única refeição."
Pergunto eu: E no fim-de-semana? Onde comem estas crianças? E nas férias? Lamento que crianças do meu país passem fome, mas será que me devo alegrar porque em contrapartida têm um computador magalhães?
Falam ainda do "crescimento da participação dos encarregados de educação nas habituais reuniões com os directores de turma". Mas que alegria, há uns anos tinhamos 1 ou 2 Encarregados de Educação e agora já temos 3 ou 4! Crescimento de 100% Fantástico! Participação ridícula, digo eu, pois em turmas de 15 ou 20 alunos, este número é inaceitável. Mais, há Directores de Turma, hoje, que ainda não conhecem alguns dos Encarregados de Educação dos alunos. O que é isto? Falta de interesse pelos vossos filhos.
E para rematar, escrevem vocês que não estamos preocupados com a imagem dos professores e educadores no seio dessa comunidade. Quanto a mim, de facto não estou nada preocupado com a minha imagem, mas sim com o meu carácter. Porque o carácter é aquilo que eu sou, quanto à imagem, é apenas aquilo que os outros pensam de mim, e isso não vale nada.
Mas tudo isto não belisca nada o prazer que tenho em ser professor e a muita satisfação que (ainda) tenho por trabalhar em Paredes de Coura.
Armando Lopes (Professor)
“Já o cancelamento da participação na comunhão pascal, sinceramente, não me preocupa.”
ResponderEliminarEsta frase é proferida pelo Presidente da Associação de Pais do Território Educativo de Coura, que faz questão de assinar como tal.
Ex.mo Sr. Predidente da Associação de Pais do Território Educativo de Coura
“Sinceramente!”
É irónico que o presidente da Associação de Pais faça esta afirmação em nome de todos os pais, quando a quase totalidade dos alunos, e suas famílias, professa a religião católica e frequenta as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica.
Assim sendo, não se entende porque se solicitou aos sacerdotes do arciprestado a divulgação da reunião da referida associação. Este facto parece revelar que a associação está ciente de que a maior parte dos seus associados frequenta o culto.
Preocupa-nos que a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica seja tida como menor, assim como as suas actividades, perante a associação por si representada.
Só vejo um motivo desta postura da associação de pais de Paredes de Coura nos seguintes termos, pura manipulação da autarquia liderada pela família Pereira e os seus tentáculos espalhados por todas as instituições locais. Sou socialista e estou farto destes falsos socialistas courenses que roubam constantemente a autarquia e abafam a liberdade de expressão.
ResponderEliminarEstá na hora de alguém assumir o PS de Coura com sentido de responsabilidade e respeito por todos. Abaixo o PereiraSalazar.
Para o anónimo, de 20 de fevereiro de 2009 23:24:
ResponderEliminarO senhor oú (senhora), é muito intelengente!
Sim senhor! consegue descobrir a pólvora!
Ó, sujeitinho(a) intelectual, você não sabe, que neste momemto a Associação de Pais do Território de Escolas de Paredes de Coura, é constituído por pessoas afectas a todos os quadrantes politicos?
Parabéns à sua intelectualidade ìmpar!!!!......
Senhor Padre Alberto, como não ligo muito a blogs, nunca tinha lido aqui neste, o seu comentário, mas ao ler, fiquei completamente perpelexo! Mas com todo o respeito pelo Senhor, como católico praticante, mais uma vez me vem à memória aquilo que nós católicos ouvimos: "tu ainda vais na conversas de padres?,tu não vez que eles estão sempre ao lado dos mais fortes?, Tu não vês que se fosse possível, nos tempos que correm, eles queriam obrigar que toda a gente fosse católica! como no tempo do salazarismo! tu não vês que eles servem-se da igreja para fazer, negócio!".
ResponderEliminarComo antes lhe disse, como católico fico triste, porque Deus, como o Senhor sabe bem, estava sempre ao lado dos mais fracos, e principalmente as crianças, que Jesus mais acarinhava! Mas infelizmente, o Senhor, um Ministro de Deus, coloca-se logo ao lado dos mais fortes com a politiquice, pelo meio!
Depois perguntam porque os jovens fogem da igreja? Ainda por cima vem com a afronta dos avisos pelas igrejas, da Associação de Pais,
quando dizem à boca cheia que a igreja é de todos! oú será só para se fazer os avisos que interessa? Como por exemplo "olhem que é preciso pagar os direitos paroquiais", é uma vergonha! e no meio disto tudo o Padre Alberto, ainda nos vem, falar de moral! religião! sei que é professor e padre, não lhe ficaria melhor se pelo menos se calasse!
Terminando, Senhor Padre Alberto, o que eu lhe desejo, é que Jesus o ilumine mais, para que pense bem antes de atirar cá para fora aquilo que diz!!!.......